Boas vistas

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sra. DA SERRA- STA. MARTA PENAGUIÃO Parte 2

Percorre-se o Marão em dia de Inverno, com sol, frio e secura preocupante.
Para este segundo acto escolhe-se outro grande poeta português e serrano de nascimento: Eugénio de Andrade. A par com Sofia marcaram a minha juventude, e agora marcam as rugas da velhice.


NUMA FOTOGRAFIA

Não sejas como a névoa, sem quimera.
Demora-te, demora-te assim:
faz do olhar
tempo sem tempo, espaço
limpo, do deserto ou do mar.



A CHEGADA



DAI-ME UM NOME

Dai-me um nome, um só nome
para tudo quanto voa:
cardo pedra romã.

Um só nome para o desejo
ser na manhã corola
de cal, cotovia,

chama subindo
baixando até ser incêndio
de amor rente ao chão.

Um só nome para que tudo,
rosa excremento mar, possa entrar numa canção.


MAIS PERTO DAS ESTRELAS





















MENSAGENS



DA MEMÓRIA

Branco, branco e orvalhado,
o tempo das crianças e dos álamos.


AOS CÉUS
O DESERTO

É o deserto- tenho quinze anos
e muito tempo para morrer.
Sentado na inclinação do sol
conto os meus dias
ou as pequenas hastes
do vento onde nenhuma ave
aproximava o céu.
Não há erro possível: oásis
ou mar das ilhas
só a palavra.



DESPEDIDA


A TORRE

Eu queria uma torre
alta
para a sua alma.
Eu, se quisesse
alguma coisa seria um rio;
um rio onde dormir
com a luz destas pedras por navio.





AO CAIR DA TARDE


O SILÊNCIO

Dai-me outro verão nem que seja
de rastos, um verão
onde sinta o rastejar
do silêncio,
a secura do silêncio, a lâmina acerada do silêncio.
Dai-me outro verão nem que fique
à mercê da sede.
Para mais uma canção.


AS RUGAS DE DEUS

DE PERFIL

De todas essas pedras, de todas,
uma só, onde passa o vento,
escolho para meu uso e alegria.


A LUZ DOS CAMINHOS

LUZ RECENTE

Respiras com cautela a luz
recente.
Deve ter acordado: canta.
Anos e anos adormecida
no fundo da pupila.
Já nem te lembravas
que fora assim tão jovem
e tinha
o nome da alegria.
Agora canta. Canta
em surdina.

CONVERSAS DESCENDENTES


CAMINHOS DE PEDRA


O AMIGO DO LADO

TODA A MÚSICA

sem ser inverno ainda
o cheiro tímido á já da chuva.
Sentia o mar subir, tinha as mãos
prontas para levar à boca:
toda a música
era só aquela rebentação.



AS MESMAS CORES NO FIM
A PAIXÃO

Levanto a custo os olhos da página;
ardem;
ardem cegos de tanta neve.
Faz dó esta paixão pelo silêncio,
pelo sussurro do silêncio,
pelo ardor
do silêncio que só os dedos adivinham.
Cegos, também.

PELA CEPA TORTA

À HORA DO FECHO

EPITÁFIO

Barcos ou não
ardem na tarde.

No ardor do verão
todo o rumor é ave.

Voa coração.
Ou então arde.








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