Boas vistas

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ERMIDA- SRA. DA SERRA 2008

"... Me he asomado a aquella santa ventana - minha santa janela- donde el poeta medita y dice adiós al sol, y habla al viento y a la aurora, y lee en el infinito; me he asomado con él a aquella ventana, a beber con los ojos el agua del Támega, ..."
Miguel de Unamuno, Por Tierras de Portugal Y de España. 2006. Alianza editorial. p: 23.


Ó Serra das divinas madrugadas,
Das estrelas, das nuvens e do vento
E das águias enormes, chamuscadas
Do sol e dos relâmpagos vermelhos!
Ó trágico Marão! Ó serra esfíngica,
Se muda e dolorosa face humana,
Com a cauda ondeante sobre o Minho
E as garras sobre a terra transmontana.
Teixeira de Pascoaes, Sombras.


A Serra do Marão considera-se, e com razão, o grande pórtico da província de Trás-os-Montes.
Sant'Anna Dionízio. Ares de Trás-os-Montes. 1977. Lello e Irmão. p: 85.


Quase no sopé da ravina (das Fragas da Ermida), a 750m de alt., aninha-se, num recôncavo, a aldeia montanhesa da Ermida.  (Id. p: 86)



 "Não se sabe se a maré da civilização transfomará por completo  a fisionomia desta província que ainda permanece como um reservatório da natureza e um testemunho de tudo aquilo que continua inalterável apesar das mutações trazidas pelo tempo e a acção do homem..."
José Mattoso. Portugal - O Sabor da Terra: Trás-os-Montes. 2010. Temas e Debates. Círculo de Leitores. p:184.


"Por enquanto ela permanece ainda como o apelo à harmonização da 'cultura' com a 'natureza' e uma afirmação da prevalência do permanente sobre o transitório" (Id. p:184)



E, deste caminho se parte em direcção à Ermida da Senhora da Serra.


Os caminheiros partiram, determinados, a conquistar um desnível de quase 700 metros.


Primeiro, sob os poucos soutos ainda existentes, rentes à aldeia...


Vislumbrando, ainda longe, as Fragas da Ermida, com os seus 1400 metros de altura.


Os ânimos são retemperados com a foto de família com as ditas Fragas a servir de fundo.


Ao fundo, à esquerda, vê-se Fontes... o Douro e a Serra fundidos. Ao longe, Vila Real.


E sobe-se sempre. Parar é o imperativo de qualquer caminheiro, para descansar e contemplar... (embora a contemplação seja mais perfeita se se virassem para o lado oposto).


Mais uma tentativa em reter as Fragas.



A bend in the hill.


Pinheirecos dispersos.


As nuvens baixas de Pascoaes.


O levíssimo caminheiro, tenta assustar o nevoeiro.


Ou apenas chama os companheiros cansados, mas sempre com vontade de alcançar o topo.


E, a custo, sobe-se a grande encosta, de desnível acentuado.


Mas o nevoeiro persegue os caminheiros. Como uma lenda antiga, tenta desanimar os caminhantes.


A vida brota em cada palmo desta terra inóspita. Este Pinus nigra aparenta saúde de ferro.


E estes dois caminheiros surpreendem-se no seu descanso, felizes, na e com a paisagem.


Ou, a caminheira deslumbrada, apenas sente que está com a mãe Natureza e com ela comunga a terra, o ar, a vida!


Outros, tentam reter o momento... será que o conseguem?...


Quase ño cimo, joga-se às escondidas no meio do jardim de terra.


Para a última etapa.


O esforço será recompensado lautamente.


Uma conífera à espera dos que sobem.


E surge, inesperadamente, a civilização, a modernidade num ermo recondito da serra, quebra a olhar, rasga a paisagem como se não fosse possível existir ali.


Mas foi e é aqui que o homem sempre procurou momentos de contacto com o além, ou simplesmente com deus... a busca perpétua do homem pela epifania. Por mim, tirava as construções porque aqui nesta Natureza já se encontra deus, ou o criador...


Esta é apenas a porta do paraíso terreno. Ao redor encontramos a porta do paraíso celestial. É só olhar e sentir!


A Ermida da Senhora da Serra.


Depois da terrível subida, a gula espraia-se num rancho à portuguesa inesquecível.


Qual pastor, este caminheiro guarda dos lobos os seus companheiros. Os lobos que Teixeira de Pascoaes diz calcorrearem esta serra, mas que agora, nem vê-los. No entanto, não vá o diabo tecê-las, o melhor é guardar o rebanho.


Depois, o momento pós prandeal é curtido a gosto do caminheiro. Afiando paus, ou dormindo a sesta.



A paisagem fica no olhar e, com mágoa temos de regressar.


Resta trazer um ramo de crocos do Marão e a saudade fica rente às suas raízes.

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