Boas vistas

terça-feira, 11 de outubro de 2011

GEIRA ROMANA- SET 2009

A mando do Governador romano da Hispania Citerior (entre 79 e 81) Caius Calpetanus Rantius Quírinalís Valerius Festus, a Via Nova foi construida para agregar novos núcleos urbanos de pequeno tamanho e, essencialmente,  para unir Bracara Augusta a Asturica Augusta:  Braga e Astorga.

Apelidada de Via XVIII, foi uma alernativa à via XVII, que atravessava Aquae Flaviae, primeira via a ligar a Meseta Interior e a fachada Atlantica Norte.
Esta alternativa, consolidada a pax romana a que correspondeu  um período de aprofundamento da romanização, atravessa o coração de uma zona acidentada, em que se sucedem relevos imponentes, vales abertos e férteis depressões.

Aproximadamente com 318km (diz-se que tem CCXV milhas romanas) a Geira também permitiu uma maior actividade mineira e a transação do minério, tão importante aspecto económico à época dos romanos.
Esta estrada apresenta um traçado extremamente bem estruturado permitindo galgar vários tramos de montanha sem desníveis acentuados, importante também para a mobilidade das tropas.


As suas características, com uma construção sólida e um traçado harmonioso e, também, o facto de ser durante séculos a melhor e talvez a única via a atravessar o maciço do Geres, tornou-a numa rota quase mítica para os povos da região, que a foram restaurando e a utilizaram praticamente até ao século anterior ao que agora vivemos.
Apelidada também de Itinerário de António, esta via romana atravessa a região do Rio Homem, penetrando na Espanha através da Portela do Homem, verdadeiro paraíso de Portugal.

Os miliários, são marcos da estrada, provavelmente pintados para que ao viajante fosse facilitada a sua leitura. Foram identificados, até agora, 276 miliários, referindo-se a várias dinastias abrangendo os quatro séculos que durou o império romano.

Para melhor identificação e estudo a via está dividida em milhas o que facilita também a abordagem aos caminheiros.
Neste percurso de média duração, apenas foi percorrido da milha XXVIII à milha XXXIV, desde a Leira dos Padrões, a oeste de S. João do Campo até à fronteira com a Espanham na Portela do Homem, acompanhando o Rio Homem, que é apenas atravessado uma vez, na ponte de S. Miguel.

Apesar de um incêndio ter devastado uma grande área de pinhal, este ficou aquém da grande Mata de Albergaria, verdadeiro monumento nacional.

À esquerda apresenta-se-nos a Barragem com Vilarinho das Furnas ao longe, meia submersa, no Vale do Homem. O estradão florestal, por vezes cruza a verdadeira via conservando o caminho romano e pisando a verdadeira calçada.

Na milha XXX, em 1992, foram exumados os restos de uma Mutatio, estação de muda de cavalos e descanso dos viajantes, e dois marcos miliários.

Há ainda vestígios de extração de pedras, provavelmente para a construção dos marcos miliários, na milha XXXI, pedreiras a céu aberto onde estas eram retiradas e talhadas (geralmente em formas cilindricas), para depois seram colocadas nos locais pretendidos.


Estamos já no interior da Mata de Albergaria, com os seus imponentes carvalhais e azevinhos a ladearem a calçada robusta, com pedras bem fincadas. É possível ver, entre as milhas XXXII e XXXIII vestígios de duas pontes romanas que permitem transpor as ribeiras de Maceira e do Forno.

O troço entre a ponte sobre a Ribeira do Forno e a milha XXXIII está relativamente bem conservado observando-se, nalgumas calçadas, os rodados marcados nas rochas.


Garante e suporte de toda a vida animal, a quantidade e variedade do suporte vegetal do Gerês tem a sua essência nos solos, no clima e nas altitudes e abundância de água. Os aspectos botânicos desta zona são tão especiais e característicos, que lhe conferem um lugar de primazia em relação à flora de Portugal.


A vegetação ribeirinha merece algum destaque só pela componente florística e o papel na estabilização nas margens dos cursos de água associados a forte erosão.


É aqui que se encontram ainda os bosques de carvalhos, aliás a árvore mais emblemática e numerosa da região, onde se inscreve a Mata de Albergaria. Em especial o Quercus robur (carvalho alvarinho) e o carvalho negral ou Quercus pyrenaica willd. (Pesquisa do Martim)


A distribuição das espécies vegetais nesta zona, e concretamente na Mata de Albergaria, é o resultado do processo de dispersão que pode ter ocorrido noutras épocas, por vezes muito longínquas.


Regra geral, o desenvolvimento de uma comunidade complexa, como os carvalhais que podemos encontrar na Mata de Albergaria, é um processo que exige tempo e disponibilidadedas sementes, associado à manutenção no espaço e no tempo de uma gama de condições ambientais propícia.

Esta Mata inclui alguns dos espaços florestais mais bem conservados do Parque e de Portugal. Constitui, por isso, um testemunho tanto do passado, sendo uma referência para o nosso conhecimento das florestas primitivas, como da vegetação potencial actual.

Zona de influência nitidamente Atlântica, com elevados níveis de pluviosidade invernal e verões quentes, sêcos e relativamente longos.

Ponte de S. Miguel. Terá sido uma imponente obra de arte com um arco de volta perfeita. Foi destruida intencionalmente no séc. XVII, num quadro das guerras da independência. Os dois arranques de pedra ainda podem ser vistos e impressionar os visitantes.
Hoje, é uma ponte de madeira oscilante.


Segundo os dados do recenseamento realizado até agora pelos técnicos do Parque Nacional da Peneda-Gerês, neste local fervilhante de vida foram registadas 226 espécies de vertebrados. Destas, 65 estão designadas como ameaçadas no Livro Vermelho de Portugal. Uma das espécies emblemáticas deste local é, sem dúvida, o Garrano do Gerês. (Pesquisa do Rodrigo)

Os Garranos que nos sairam ao caminho!

Serra do Gerês vista do alto da Serra Amarela.

Ao fundo, as terras de Bouro.

OS TEMPOS DE CIRCULAÇÃO:
A velocidade a que se viajava nesta via dependia de inúmeros factores. Horácio, caminhando sem pressas, levou 13 dias a fazer o percurso entre Roma e Brindes, o mesmo que Catão efectuou em 5 dias. è difícil um cálculo exacto, tanto mais que a maior parte das referências antigas ao espaço percorrido em determinado tempo, não explicitam qual o meio de transporte utilizado.
Um exército romano em marcha, segundo Vegécio, percorria num dia 10 milhas (justum iter), ou 20 milhas (magnum iter), com um dia de paragem em cada quatro (interintermittere), o que equivale a, respectivamente, 15 e 30 km.
A pé, o viajante podia percorrer 30 a 40 km, distância que representava já um esforço apreciável.
A velocidade do cursus publicus, ou seja, do serviço oficial, segundo Raymond Chevallier, andava à volta de 50 milhas, o que equivalia a dizer que os bons correios percorriam por dia 75km. No entanto, exemplos concretos indicam que esse valor era muito variável. Cícero, recebe na Capadócia (Turquia actual) uma carta de Roma em 50 dias. Quando escreve ao seu filho, estudante em Atenas, algumas cartas demoraram cerca de 3 meses. A notícia da morte de Nero demorou 6 dias a chegar à Hispãnia, ou seja, um trajecto terrestre de 332 milhas (498km), demorou menos de 36 horas a ser percorrido. A notícia de Gaius Caesar, na Lycia, chegou a Roma em 36 dias. A distância entre estes dois pontos é de 4 dias.

Todo o texto se baseia, ou cita, o livro:
BOTELHO et al. Roteiro- Geira/ Via Nova na Serra do Gerês/Xurés- de Bracara Augusta a Asturica Augusta. Municípios de Terras de Bouro e Concello de Lóbios. Outubro de 2006. ISBN: 972-9046-16-6.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

TRILHO DE JALES- PR13 (C.M. de Vila Pouca de Aguiar) Julho de 2008

Este é o décimo terceiro de 14 trilhos de pequena rota que a Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar tem para oferecer em termos de pedestrianismo, para o seu concelho. Para já, a marcação tem sido razoavelmente boa, embora haja pequenos locais em vários dos trilhos, que necessitam de maior atenção, nomeadamente a nível do corte dos matos que tomam rapidamente conta dos carreiros e caminhos.


Mas este percurso estava muito bem.
Terras de Jales, planalto a oeste de Vila Pouca, terra de mineiros, ou ex-mineiros, de riquezas nas profundezas e de superfície bem mais pobre do que as terras que rodeiam a vila, sede de concelho.


E tudo começa junto ao pelourinho de Alfarela de Jales, antiga sede de município, com uns casarões brazonados e bastante casario, a maioria de emigrantes que se enchem apenas no verão.


E sai-se em direcção a Moreira, também de Jales, porque estas são as terras do mesmo nome, antigas, anteriores aos romanos.


Conhecendo relativamente bem estas terras, a surpresa relativamente à paisagem foi bastante agradável:


Para além de caminhos preenchidos nas suas orlas com muros de pedra solta, a vegetação é relativamente abundante, variada, mas onde o castanheiro de souto predomina.


Estes muros que circundam lameiros e terras aráveis são um dos grandes patrimónios destas terras modestas...


E os caminhos, foram arranjados e asfaltados...modernidades muito recentes por estas bandas. Aqui, a estrada municipal que liga Moreia a Reboredo, percorridas pelas sombras...


Enquanto as vacas, fartas, repousam à sombra de um sol de verão intenso.


Pisagem... E a Carva ali tão perto!


Em que "bendito foi o fruto", base da alimentação do povo até ser destronada pela batata, após os "Descobrimentos".


Mas sejam também benditos os lameiros, mesmo mais secos no verão.


Porque estas terras são terras de nascentes de água. No inverno  a água escorre por tudo que é pedra e terra, lameiro ou carreiro... mas no verão tudo parece mirrar, tal a escassez deste recurso. Não nos podemos esquecer que aqui bem perto nasce o Rio Pinhão, que vai engrossando desde a Ribeira da Carva até ao Douro.


A imponência do castanheiro, verdadeiro senhor destas terras. A este a vida não lhe tem dado descanso, mas parece sempre vencer mais um ramo cada ano que passa.


Este, até às pedras irá resistir!


Contrastes

Por caminhos

de outrora
de paisagens intensas, com árvores assim, magestosas.

Até que, novemente a aldeia de Alfarela, final do percurso desse dia.

a querer merecer o descanso, mas já apensar noutra caminhada.

E este percurso circular volta a Alfarela, depois de ter passado também por Cidadelha e Campo, a terra das minas auríferas, há bastante tempo fechadas.