Boas vistas

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ASSIM ERA, ASSIM JÁ NÃO É


Esta era a "automotora" que serviu nos últimos tempos a linha do sabor. Recordo que, este "autocarro" a gasolina, transportava os passageiros com destino a outros mundos para lá do nordeste português.
Lembro-me de sair de Moncorvo nesta "coisa", mas ter a certeza de ir ao encontro de algo inesperado e novo, onde a expectativa me deslumbrava numa iniciação de viajante. Entre oa meus 5 a 10 anos, era este o meio que me transportava para o almejado desconhecido, desde as praias da costa portuguesa, a Coimbra ou Porto.
Podia-se encontrar quase todo o Portugal apenas sobre os carris, apreciando não apenas o sentido das viagens mas, acima de tudo, sentir intensamente as paisagens do Tua, do Sabor, do Corgo, do Douro... e tantas outras!  Sabiamos Portugal de lés a lés, olhando paisagens deslumbrantes como a deste Trás-os-Montes.
Quanto ao Martim, reviveu recentemente a paisagem de Torre de Moncorvo e descobriu um Douro e um Sabor novos, que já trazia nos genes, mas que nunca tinha visto deste ângulo. Não conheceu a automotora mas já recriou esta pequena viagem - entre Pocinho e Moncorvo- apesar de se ter embrenhado numa paisagens apenas de restos humanos, cacos, ferro retorcido e vegetação a tenter esconder uma vaidade humana que foi a Linha do Sabor.
Miguel Torga, escreveu:

Soube a definição na minha infância.
Mas o tempo apagou
As linhas que no mapa da memória
A mestra palmatória
Desenhou.

Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.

Algo com que começa o seu livro "Portugal".

Ou ainda, Sant´'Anna Dionísio, refere nos seus "Guia de Portugal", sobre Trás-os-Montes:

Terra pedregosa, magra e ascética-, aqui e além matizada pela frescura rústica e pastoril de algumas veigas-, (...)província portuguesa de mais vincado cunho telúrico e humano. Para quem tiver a paixão de conhecer o lastro milenário dos costumes, poucas terras serão mais pródigas de revelações.

Outros grandes nomes da cultura portuguesa se atreveram a desvendar estas terras de Portugal e em especial a de Trá-os-Montes, sabendo e conhecendo in loco as suas potencialidades, os seus saberes e sabores. Apenas os nossos sucessivos políticos, mal escolhidos, não entendem, não sabem nem das gentes nem das belezas destes sítios. E, nessa enorme ignorância, desacertam os tempos e os espaços, fazendo asneira atrás de asneira, como a de deixar cair, sem qualquer remorso ou emoção, as linhas de via estreita que hoje estão completamente abandonadas, como o exemplo citado da Linha do Sabor. É triste e revoltante, mas a impotência do comum mortal transmontano só pode ser escamoteada se olharmos, virmos e mostrarmos o que é, o que foi e até, porque não, o que poderia ter sido, se tivermos arte para tanto.
O Martim diz, com 12 anos, "como é possível que esta linha não esteja a funcionar?".
Palavras sábias de desilusão....! E é ele, e muitos como ele, que vão herdar este país ABANDONADO, ESQUECIDO!!






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