"... Me he asomado a aquella santa ventana - minha santa janela- donde el poeta medita y dice adiós al sol, y habla al viento y a la aurora, y lee en el infinito; me he asomado con él a aquella ventana, a beber con los ojos el agua del Támega, ..."
Miguel de Unamuno, Por Tierras de Portugal Y de España. 2006. Alianza editorial. p: 23.
Ó Serra das divinas madrugadas,
Das estrelas, das nuvens e do vento
E das águias enormes, chamuscadas
Do sol e dos relâmpagos vermelhos!
Ó trágico Marão! Ó serra esfíngica,
Se muda e dolorosa face humana,
Com a cauda ondeante sobre o Minho
E as garras sobre a terra transmontana.
Teixeira de Pascoaes, Sombras.
A Serra do Marão considera-se, e com razão, o grande pórtico da província de Trás-os-Montes.
Sant'Anna Dionízio. Ares de Trás-os-Montes. 1977. Lello e Irmão. p: 85.
Quase no sopé da ravina (das Fragas da Ermida), a 750m de alt., aninha-se, num recôncavo, a aldeia montanhesa da Ermida. (Id. p: 86)
"Não se sabe se a maré da civilização transfomará por completo a fisionomia desta província que ainda permanece como um reservatório da natureza e um testemunho de tudo aquilo que continua inalterável apesar das mutações trazidas pelo tempo e a acção do homem..."
José Mattoso. Portugal - O Sabor da Terra: Trás-os-Montes. 2010. Temas e Debates. Círculo de Leitores. p:184.
"Por enquanto ela permanece ainda como o apelo à harmonização da 'cultura' com a 'natureza' e uma afirmação da prevalência do permanente sobre o transitório" (Id. p:184)
E, deste caminho se parte em direcção à Ermida da Senhora da Serra.
Os caminheiros partiram, determinados, a conquistar um desnível de quase 700 metros.
Primeiro, sob os poucos soutos ainda existentes, rentes à aldeia...
Vislumbrando, ainda longe, as Fragas da Ermida, com os seus 1400 metros de altura.
Os ânimos são retemperados com a foto de família com as ditas Fragas a servir de fundo.
Ao fundo, à esquerda, vê-se Fontes... o Douro e a Serra fundidos. Ao longe, Vila Real.
E sobe-se sempre. Parar é o imperativo de qualquer caminheiro, para descansar e contemplar... (embora a contemplação seja mais perfeita se se virassem para o lado oposto).
Mais uma tentativa em reter as Fragas.
A bend in the hill.
Pinheirecos dispersos.
As nuvens baixas de Pascoaes.
O levíssimo caminheiro, tenta assustar o nevoeiro.
Ou apenas chama os companheiros cansados, mas sempre com vontade de alcançar o topo.
E, a custo, sobe-se a grande encosta, de desnível acentuado.
Mas o nevoeiro persegue os caminheiros. Como uma lenda antiga, tenta desanimar os caminhantes.
A vida brota em cada palmo desta terra inóspita. Este Pinus nigra aparenta saúde de ferro.
E estes dois caminheiros surpreendem-se no seu descanso, felizes, na e com a paisagem.
Ou, a caminheira deslumbrada, apenas sente que está com a mãe Natureza e com ela comunga a terra, o ar, a vida!
Outros, tentam reter o momento... será que o conseguem?...
Quase ño cimo, joga-se às escondidas no meio do jardim de terra.
Para a última etapa.
O esforço será recompensado lautamente.
Uma conífera à espera dos que sobem.
E surge, inesperadamente, a civilização, a modernidade num ermo recondito da serra, quebra a olhar, rasga a paisagem como se não fosse possível existir ali.
Mas foi e é aqui que o homem sempre procurou momentos de contacto com o além, ou simplesmente com deus... a busca perpétua do homem pela epifania. Por mim, tirava as construções porque aqui nesta Natureza já se encontra deus, ou o criador...
Esta é apenas a porta do paraíso terreno. Ao redor encontramos a porta do paraíso celestial. É só olhar e sentir!
A Ermida da Senhora da Serra.
Depois da terrível subida, a gula espraia-se num rancho à portuguesa inesquecível.
Qual pastor, este caminheiro guarda dos lobos os seus companheiros. Os lobos que Teixeira de Pascoaes diz calcorrearem esta serra, mas que agora, nem vê-los. No entanto, não vá o diabo tecê-las, o melhor é guardar o rebanho.
Depois, o momento pós prandeal é curtido a gosto do caminheiro. Afiando paus, ou dormindo a sesta.
A paisagem fica no olhar e, com mágoa temos de regressar.
Resta trazer um ramo de crocos do Marão e a saudade fica rente às suas raízes.
Sem comentários:
Enviar um comentário